MATA ATLÂNTICA: FAUNA SILVESTRE ATROPELADA
NO PLANALTO NORDESTE, RS -BR


Lisiane Becker¹, Rogério Mongelos²
¹Zoóloga / ONG MIRA-SERRA(miraserra@miraserra.org.br; www.miraserra.org.br)
²Arquiteto / RPPN R. MIRA-SERRA (ecologus@terra.com.br)

Ainda é incipiente a quantidade de trabalhos versando sobre o atropelamento da fauna (répteis, aves e mamíferos) brasileira em rodovias, provavelmente por exigir esforço de estudiosos e uso de GPS. Entre estes, temos os estudos no pantanal mato-grossense (Br-262, BR-158; MS-184, MS-228, MS-346, MS-339, MS-178 e MS-325) bem como no complexo lagunar do Taim (BR 47) e em Osório (BR-101), ambos no Rio Grande do Sul. O presente trabalho teve como proposta encontrar um método simples de monitoramento dos animais atropelados, que pudesse ser aplicado por qualquer pessoa. Para tanto, utilizou-se a RS-020 (trecho compreendido entre os municípios de Cachoeirinha e São Francisco de Paula) que cruza a poligonal da Mata Atlântica no estado. Entre maio de 2000 a março de 2005, foram realizadas vinte e seis amostragens, divididas igualmente em dois períodos: de setembro a março e de abril a agosto Embora o número de veículos seja reduzido se comparado com a “Rota Romântica” pela BR-116 (no mesmo bioma), a RS-020 não possui acostamento em boa parte da pista além de apresentar muitas curvas sendo, portanto, desaconselhável a obtenção de coordenadas georreferenciadas nos pontos de observação. Assim sendo, adotou-se como referência básica o número dado às paradas de ônibus, em detrimento da marcação do DAER (descontínuo) e do odômetro (dependente do ponto de origem e da lembrança de calibragem). A velocidade do veículo de trabalho variou entre 40 Km/h e 80 km/h. Os exemplares atropelados foram agrupados, a posteriori, em silvestres (n=181), domésticos (n=21) e indeterminados (n=5). A identificação da espécie, a partir da observação de dentro de veículo em movimento, foi possível para a maioria dos mamíferos (ex: Didelphis albiventris, Cavia aperea, Coendou villosus, Dusicyon sp, Dasypus sp), o mesmo não ocorrendo para répteis e aves. Serpentes (Jararaca sp e Spilotes anomalepis) e lagartos (Tupinambis merianae) foram vistos tanto em óbito quanto atravessando a rodovia. Não houve diferença significativa entre o número de atropelamentos no inverno e no verão até novembro de 2004. No entanto, ao serem incluídos os dados obtidos para as três amostragens realizadas entre dezembro e março de 2005, constatou-se um acréscimo de 58% no número de animais atropelados. Este fato pode estar relacionado com a severa estiagem ocorrida na região e, histórica para o estado. Dados obtidos por este método indicaram cinco trechos que deveriam receber atenção dos motoristas e das autoridades competentes, estando eles compreendidos entre o “primeiro corredor” nas paradas de ônibus 84 a 87 e o “quinto corredor”, nas paradas de ônibus nº 140 a nº 173. Neste último intervalo, área rural de Taquara e de São Francisco de Paula, a média é de um animal atropelado por ponto. A partir deste estudo a ONG MIRA-SERRA, juntamente com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA-RS), o Projeto de Conservação de Conservação da Mata Atlântica- RS e o DAER, irão fixar placas informativas-formativas nestes locais na semana da Mata Atlântica. Embora não fosse intenção deste trabalho atribuir causalidade, foram identificados como fatores sinérgicos: alta velocidade dos automóveis, principalmente nas ultrapassagens em curva, coivaras (desmatamento com queima) nas proximidades da rodovia, vegetação até o limite da estrada em ambos os lados ou núcleo antrópico em uma das margens além de atropelamentos intencionais. O método também foi testado e aprovado por dois técnicos em meio ambiente e por um motorista profissional, demonstrando que ele poderá ter boa receptividade pelo viajante em geral, levando à sensibilização ambiental no trânsito e à proteção da biodiversidade.


(Artigo revisado e adaptado para a RMA em abril/2005. Original publicado no I Seminário Gaúcho Sobre Animais Selvagens. Anais. Universidade Federal de Santa Maria, 03 a 07 de novembro de 2004).


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